Relações de gênero e gueto profissional: estudo com mulheres motoristas de aplicativos de mobilidade urbana

Ana Maria Mendes Goulart, Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, Fernanda Versiani
DOI: https://doi.org/10.21529/RECADM.2022005

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Resumo

Levando em consideração o contexto da economia compartilhada, esta pesquisa tem como objetivo compreender como as mulheres motoristas de aplicativos de mobilidade urbana percebem as relações de gênero nesta atividade profissional reconhecida como o “tipo de trabalho para homem”. A pesquisa é de caráter qualitativo, do tipo descritivo, em que foi realizado um estudo de caso com mulheres motoristas de aplicativos de mobilidade urbana. Foram realizadas onze entrevistas semiestruturadas por meio da técnica “bola de neve”. Os resultados indicam que o trabalho de motorista de aplicativo não é visto como pertencente a um gueto profissional, mas constata-se que a predominância masculina na atividade sugere o contrário. Ficou em evidência o reflexo social e cultural no discurso das entrevistadas para o entendimento da construção dos significados na relação de gênero enquanto relação primária de poder. Observou-se também que o contexto da economia compartilhada pode favorecer a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, principalmente naquelas atividades tidas como pertencentes aos guetos profissionais masculinos. Entretanto, para isso, é necessário discutir mais sobre o assunto, visto que a complexidade da falta de mulheres em determinados tipos de trabalho se dá pela exclusão subjetiva do sistema patriarcal.


Palavras-chave

economia compartilhada; guetos profissionais; aplicativos de mobilidade urbana; relações de gênero


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