Palavras do editor
Abstract
Acesso Livre às Publicações Científicas
Miguel Conde escreve para “O Globo” em 24 de fevereiro um interessante artigo relatando um movimento mundial visando uma “inovação” na publicação de artigos científicos. A inovação é acesso livre ao conteúdo dos artigos.
Se bem que totalmente de acordo com esta “inovação”, me pergunto se é inovação o que faz a RESI desde 2002? Na RESI estamos conseguindo o acesso livre, com o trabalho voluntário de alguns pesquisadores atuando na edição e revisão dos artigos submetidos, e por estar a revista sediada em uma universidade que tem naturalmente por finalidade a educação.
Me pergunto ainda onde o autor tirou a frase: “Os historiadores costumam apontar 1965 como o ano de nascimento do sistema moderno de publicação científica”, e, mais adiante: “Desde então, os periódicos tornaram-se o meio por excelência de partilha do conhecimento na comunidade científica.” Discordo totalmente desta data, pois, quando cheguei na Universidade Livre de Bruxelas, em 1967, para iniciar meu doutoramento, encontrei uma biblioteca rica em periódicos científicos com muitos anos de coleções disponíveis. Agora mesmo tenho na minha mesa o artigo de Torres y Quevedo, publicado em 15/11/1915, na “Revue Générale des Sciences Pures et Appliquées”, paginas 601 a 611. Além disto, tenho ainda o número de outubro de 1951, do “Proceedings of the IRE”, o qual estava já no seu 39º ano de existência, tendo portanto iniciada sua aparição em 1912! E foi um numero notável, dedicado à TV a cores, recém lançada nos Estados Unidos.
Ousaria dizer que, nas transformações por que passou nossa sociedade, depois do término da 2ª Grande Guerra em 1945, e no início da corrida armamentista, a sede por ganhar dinheiro cresceu como uma doença epidêmica, atacando silenciosamente grande parte da população mundial. Em tudo se quer ganhar dinheiro, lutar por um ideal em que o dinheiro não esteja envolvido é sinônimo de estar enlouquecendo. Assim é que muitas revistas científicas, que se mantinham com anúncios (muito úteis, por sinal), subiram de preço, e também muitas passaram a cobrar “contribuição voluntária pela publicação”.
Chega-se ao caso alarmante do pesquisador, pago pelo dinheiro do povo (diretamente no caso de particulares e indiretamente, através dos impostos, no caso de serviço público), para poder ter a qualidade de seu trabalho reconhecida, precisar publicar em veículos cada vez mais difíceis, no primeiro mundo em inglês, em revistas caríssimas, as quais mesmo muitas universidades americanas ou européias não dispõem de verbas para assinar! A conseqüência é tornar seu trabalho “segredo científico”, dele tendo acesso apenas (ou quase) os membros de centros de pesquisa ricos de primeiro mundo… E mais uma vez se vê o pesquisador de terceiro mundo trabalhando para incrementar a ciência do primeiro mundo…
A RESI se apresenta como um esforço realista, feito pelo Departamento de Informática e Estatística da UFSC, para fornecer espaço para publicação de artigos, tutoriais e resultados de pesquisas a custo zero. Acreditando que o conhecimento não deve ser limitado a uma região, aceita submissão de trabalhos de quaisquer partes do Globo, em Português, Espanhol ou Inglês. Todos são submetidos ao mesmo processo de avaliação, não havendo portanto privilégios nem mesmo para os membros do departamento que a acolhe (como é comprovado pelo baixíssimo número de artigos com autores do INE/UFSC).
A comunidade parece reconhecer a qualidade da RESI, que, com mais de 1000 acessos por mês, conseguiu aparecer no QUALIS da CAPES como A local para Engenharias III, e C nacional para multidisciplinar.
Jorge M. Barreto
Editor Chefe