"Pra tá no DC tem que ser meio doido. Se tu não és, vai ficar": a saúde mental dos servidores do Departamento de Criminalística do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul

Neusa Rolita Cavedon
DOI: https://doi.org/10.5329/RECADM.20121102006

Resumen

O objetivo deste artigo é mostrar como se dá o cotidiano daqueles que trabalham com locais de crime, de violência, buscando verificar como isso afeta a saúde mental do trabalhador. A pesquisa etnográfica foi realizada com os servidores que exercem suas atividades no Departamento de Criminalística do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul. O sofrimento se dá em face das vivências dramáticas que envolvem entrar em contato com corpos dilacerados, em estado de putrefação, com familiares desesperados, diferentes contextos sociais, reviver a cena do crime mediante a elaboração do laudo, presenciar a violência impetrada contra crianças. A satisfação no trabalho se dá através do laudo bem montado, da ciência do resultado da perícia no âmbito do judiciário. O servidor do DC precisa enfrentar a morte violenta fazendo uso de mecanismos de defesa que privilegiem a vida, daí a ênfase no discurso que coloca a atividade como “apaixonante” por auxiliar na absolvição ou condenação das pessoas sob suspeita. Absolver ou condenar implica preservar a vida, absolver salvaria a vida de um inocente que poderia ficar na prisão injustamente, condenar significa garantir a vida dos integrantes da sociedade de onde o indivíduo emerge, posto que ele, em liberdade, poderia reincidir no crime.

 


Palabras clave

Perícia; saúde mental; sofrimento; prazer; etnografia


Compartilhe


Referencias


Aldé, L. (2003). Ossos do ofício: processo de trabalho e saúde sob a ótica dos funcionários do Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro.

Ariès, P. (1981). História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara.

Barbosa, M. (2004) A morte imaginada. Trabalho apresentado no XIII Compôs. São Bernardo do Campo.

Burke, P. (1995) Violência urbana e civilização. Braudel papers. n. 12.

Cavalcanti, D. F. L. (2006). A experiência num campo desconhecido: a instituição policial entendida por uma estudante de Psicologia. São Paulo: Psicologia Ciência e Profissão, 26 (1), pp. 144-153. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932006000100013

Dejours, C. (1992). A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré.

Dejours, C. (2005). Fator humano. Rio de Janeiro: FGV.

Gomes, M. P. (2008) Antropologia. São Paulo: Contexto.

Mendes, A. M. B. (1995). Aspectos psicodinâmicos da relação homem-trabalho: as contribuições de C. Dejours. Psicologia Ciência e Profissão. pp. 34-38.

Minayo, M. C. S. (2003). A violência dramatiza causas. In: Minayo, M. C. S. & Souza, E. R. (org.) Violência sob o olhar da saúde: a infrapolítica da contemporaneidade brasileira. Rio de Janeiro: FIOCRUZ.

Misse, Michel. Violência: o que foi que aconteceu? http://www.necvu.ifcs.ufrj.br/arquivos/viol%C3%AAnciaoquefoiqueaconteceu.pdf

Muir, E. (2001) Fiesta y rito em la Europa Moderna. Madrid: Complutense.

Pinheiro, P. S. & Almeida, G. A. (2003). Violência Urbana. São Paulo: Publifolha.

Pitta, A. (1990). Hospital: dor e morte como ofício. São Paulo: HUCITEC.

Ramminger, T. (2002). A saúde mental do trabalhador em saúde mental: um estudo com trabalhadores de um hospital psiquiátrico. Boletim da Saúde, v. 16, (1), pp. 111-124.

Schramm, F. R. (2002). Morte e finitude em nossa sociedade: implicações no ensino dos cuidados paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia., v. 48, (1), pp. 17-20.

Silva, E. A. & Costa, I. I. (2008, junho). Saúde mental dos trabalhadores em saúde mental: estudo exploratório com os profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial de Goiânia/GO. Psicologia em Revista. Belo Horizonte: v. 14, (1), pp. 83-106.

Spode, C. B. & Merlo, A. R. C. (2006). Trabalho policial e saúde mental: uma pesquisa junto aos capitães da polícia militar. Psicologia reflexão e crítica. Porto Alegre: UFRGS, v. 19, (3), pp. 362-370.




Licencia de Creative Commons
Este obra está bajo una licencia de Creative Commons Reconocimiento 4.0 Internacional.