Reordenação do status da cachaça de alambique: uma abordagem sob a ótica do trabalho institucional

Daniel Calbino, Mozar José de Brito, Valéria da Glória Pereira Brito
DOI: https://doi.org/10.21529/RECADM.2022002

Texto completo:

PDF

Resumo

O presente artigo se propôs a investigar como ocorreram as práticas institucionais que reordenaram o status da cachaça artesanal de alambique no Estado de Minas Gerais, Brasil. Por meio de uma pesquisa de natureza qualitativa, recorreu-se a dados de quatro décadas (1982-2020) no ramo da cachaça mineira. Neste estudo de caso, as informações foram coletadas por meio de pesquisas documentais e entrevistas que foram particularizadas pela análise temática. A partir da articulação de um grupo heterogêneo de atores foi possível registrar como a dinâmica do status foi mudando ao longo do tempo. As práticas exercidas requereram dos atores não apenas esforços pessoais nas rotinas do campo, mas o envolvimento em ações mais amplas, como as mudanças nos níveis político, técnico e cultural. Evidenciou-se que o trabalho institucional realizado por atores do ramo da cachaça modificou o status da bebida por meio do deslocamento de uma posição de baixo prestígio social para se tornar uma referência na qualidade do destilado tanto nacional como internacional. Em conclusão, o estudo proveu um suporte teórico que auxilia na explicação de como as mudanças de status podem ocorrer nas dinâmicas de mercados, além de fornecer elementos que evidenciam a reordenação do status em nível macro organizacional.


Palavras-chave

cachaça de alambique; status; mudança de categoria; pesquisa qualitativa


Compartilhe


Referências


Amarante, J., & Crubellate, J. (2020). Institutional pressures, institutional work and the development of universities’ entrepreneurial turn. Revista de Administração Contemporânea, 24(2), 119-133.

Associação Mineira dos Produtores de Cachaça de Qualidade. Cachaça com Notícias, 8(35), 2014.

Bothner, M., Kim, Y., & Smith, E. (2012). How does status affect performance? Status as an asset vs. status as a liability in the PGA and NASCAR. Organization Science, 23, 416-433.

Brankovic, J. (2018). The status games they play: unpacking the dynamics of organisational status competition in higher education. Higher Education, 75(4), 695-709.

Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative research in psychology, 3(2), 77-101.

Minas Lovers. (2019, dezembro, 11). Por que as cachaças mineiras são tão diferentes? Recuperado em 17 julho, 2020, de https://minaslovers.com.br/blog/artigo/por-que-as-cachacas-mineiras-sao-diferentes-145

Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. (2019). A cachaça no Brasil. Dados de Registro de cachaças e aguardentes. Brasília: MAPA/AECE.

Byrne, A., & Barling, J. (2017). When she brings home the job status: wives’ job status, status leakage, and marital instability. Organization Science, 28(2), 1137-1148.

Cachaciê. (2017, Maio, 31). Idealismo, trabalho duro e visão empreendedora. Recuperado em 20 junho, 2020, de http://cachacie.com.br/ultimas-noticias/idealismo-trabalho-duro-e-visao-empreendedora-este-e-o-blend-da-cachaca-mineira/

Cana Brasil. (2020, fevereiro, 19). Interpretação do avanço mineiro da cachaça artesanal de alambique. Recuperado em 21 julho, 2020, de https://canabrasil.com.br/2020/02/19/interpretacao-do-avanco-mineiro-da-cachaca-artesanal-de-alambique/

Castro, A., Ansari, S. (2017). Contextual “readiness” for institutional work. A study of the fight against corruption in Brazil. Journal of Management Inquiry, 26(4), 351–365.

Coraiola, D., Jacometti, M., Baratter, M., & Gonçalves, S. (2015). Conciliando agência e contexto na dinâmica da mudança institucional. Cadernos Ebape, 13(4), 701-726.

Coutinho, P. Dinâmica da modernização do setor de produção de aguardente de cana- de-açúcar no Brasil: construindo uma cachaça de qualidade. (2001). Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.

Daniel, R. C. (2016). Pequena produção de cachaça no interior paulista: a informalidade em questão. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara.

Delmestri, G., & Greenwood, R. (2016). How Cinderella became a queen: theorizing radical status change. Administrative Science Quarterly, 61(4), 507-550.

Delphine, G. (2017). From écobilan to LCA: the elite’s institutional work in the creation of an environmental management accounting tool. Critical Perspectives on Accounting, 42, 36-58.

Deephouse, D. L.; Suchman, M. (2008). Legitimacy in Organizational Institutionalism. In R. Greenwood, C. Oliver, K Sahlin, & R. Suddaby (Eds.). The Sage handbook of organizational institutionalism (pp. 49-77). London: Sage.

Dias, N. C. (2014). A Cachaça é nossa: cultura e ideologia na construção da identidade nacional. Anais Brasileiros de Estudos Turísticos, 4(1), 35-44.

Dias, P. (2019, fevereiro, 27). “Mago da cachaça” visita experimento da UFLA. Recuperado em 24 junho, 2020, de https://ufla.br/noticias/pesquisa/12702-mago-da-cachaca-visita-experimento-da-ufla

DiMaggio, P., & Powell, W. (1983). The iron cage revisited: institutional isomorphism and collective rationality in organizational fields. American Sociological Review, 48, 147-160.

Dumont, P. (2017, junho, 11). Brasilidade em cada dose: democrática, cachaça vai bem pura, gelada ou drinks. Recuperado em 25 julho, 2020, de https://www.hojeemdia.com.br/mais/brasilidade-em-cada-dose-democr%C3%A1tica-cacha%C3%A7a-vai-bem-pura-gelada-ou-drinks-1.534330

Duarte, J., & Barros, A. (2006). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas.

Durand R., & Kremp, P. (2016). Classical deviation: organizational and individual status as antecedents of conformity. Academy of management Journal, 59(1), 65-89.

Durand, R., & Paolella, L. (2013). Category stretching: reorienting research on categories in strategy, entrepreneurship, and organization theory. Journal of Management Studies, 50, 1100-1123.

Durand, R., Rao, H., & Monin, P. (2007). Code and conduct in French cuisine: impact of code changes on external evaluations. Strategic Management Journal, 28(5), 455–72.

Dwertmann, D., & Boehm, S. (2015). Status matters: the asymmetric effects of supervisor subordinate disability incongruence and climate for inclusion. Academy of Management Journal, 59(1), 44-64.

Figueiredo, L. (2017). A linguagem da embriaguez: cachaça e álcool no vocabulário político das rebeliões na américa portuguesa. Revista de História, 176, 1-25.

Fiuza, M. (2013, fevereiro, 06). Conheça a pinga mineira. Recuperado em 27 junho, 2020, de http://sites.correioweb.com.br/app/noticia/encontro/atualidades/2013/02/06/interna_atualidades,409/conheca-a-pinga-mineira.shtml

Folha Campinas. (2003, novembro, 09). Mulheres criam confraria em Campinas. Recuperado em 29 julho, 2020, de https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0911200325.htm

Geertz, C. (1973). Thick description toward an interpretative theory of culture. In C. Geertz (Ed.). The interpretation of cultures (pp. 310-323). New York: Basic Books.

Gould, N., Liu, A., & Yu, Y. (2016). Opportunities and opportunism with high-status B2B partners in emerging economies. Journal of Business & Industrial Marketing, 31(5), 1143-1178.

Gondim, S., Estramiana, J., Gallo, I., Vasconcellos, C., & Bonfim, M. (2009). Status profissional e gênero na atribuição intercultural de afetos no trabalho. Revista de Administração Mackenzie, 10(4), 75-99.

Hamann, R., & Bertels, S. (2018). The institutional work of exploitation: employers’ work to create and perpetuate inequality. Journal of Management Studies, 55, 394-423.

Hampel, C., Lawrence, T., & Tracey, P. (2017). Institutional work: taking stock and making it matter. In R. Greenwood, R., C. Oliver, T. Lawrence, & R. Meyer, R (Eds.), Handbook of organizational institutionalism (pp. 558-590). London: SAGE.

Hoffman, A. (1999). Institutional evolution and change: environmentalism and the US chemical industry. Academy of Management Journal, 42(4), 351-371.

Hsu, G., Koçak, O., & Hannan, M. (2009). Multiple category memberships in markets: an integrative theory and two empirical tests. American Sociological Review, 74, 150-169.

Jacometti, M. (2013). Institutional Work na conformação do conhecimento difundido em redes interorganizacionais: estudo de APLs no Estado do Paraná. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, BRasil.

Jacometti, M., Gonçalves, S., & Castro, M. (2014). Institutional work e conhecimento em redes interorganizacionais: uma proposta para investigar APLs. Revista de Administração Mackenzie, 15(6), 17-47.

Jensen, M., Kim, B., & Kim, H. (2011). The importance of status in markets: a market identity perspective. In L. Pearce (Ed.), Status in management and organizations (pp.87-117). Cambridge, MA: Cambridge University Press.

Kim, B., & Jensen, M. (2009). It’s not just what you have, but how you present it: how subcategorization affects opera market identity. Academy of Management Annual Meeting Proceedings, 1, 1-6.

Lawrence, T., & Suddaby, R. (2006). Institutions and institutional work. In S. Clegg, C. Hardy, T. Lawrence, & T. Nord. Handbook of organization studies (2 ed., pp. 215-254). New York: Sage Publications.

Lawrence, T., Leca, B., & Zilber, T. (2013). Institutional work: current research, directions and overlooked issues. Organization Studies, 34(8), 1023-1033.

Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2009). Theorizing and studying institutional work. In T. Lawrence, R Suddaby, & B. Leca. Institutional work: actors and agency in institutional studies of organizations (pp. 11-59). UK: Cambridge University Press.

Lawrence, T., Suddaby, R., & Leca, B. (2011). Institutional work: refocusing institutional studies of organization. Journal of Management Inquiry, 20(1), 196-214.

Lima, A., Balestrin, A., Faccin, K., & Marconatto, D. (2019). A institucionalização da cooperação: uma análise do trabalho institucional em uma comunidade vulnerável da região amazônica. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 21(4), 683-705.

Liu, Y., Zhang, C., & Jing, R. (2016). Coping with multiple institutional logics: temporal process of institutional work during the emergence of the one foundation in China. Management and Organization Review, 12(2), 387-416.

Macedo, S. (2014, fevereiro, 26). Cachaça ganha status de bebida para ser degustada. Recuperado 05 julho, 2020, de https://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u3249.shtml

Maciel, C., & Chaves, C. (2017). Informational status in intra-organizational networks: the role of knowledge sharing and structural holes. RAUSP Management Journal, 52(2), 189-198.

Menezes, E. (2014, fevereiro, 08). Cachaça mineira é escolhida a melhor do Brasil. Confira o ranking. Recuperado em 10 junho, 2020, de https://noticias.r7.com/minas-gerais/fotos/cachaca-mineira-e-escolhida-a-melhor-do-brasil-confira-o-ranking-24082019#!/foto/1

Minas Lovers. (2019, dezembro, 11). Por que as cachaças mineiras são tão diferentes? Recuperado em 15 julho, 2020, de https://minaslovers.com.br/blog/artigo/por-que-as-cachacas-mineiras-sao-diferentes

Morais, R. (2019). A interrupção da informalidade no campo da cachaça de alambique: uma análise sob a ótica do trabalho institucional de participantes de uma associação. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

Ollivier, M. (2009). Status em sociedades pós-modernas: a renovação de um conceito. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, 77, 41-71.

Paiva, A. (2017). Lógicas institucionais e estratégia como prática: um estudo em organizações constitutivas do campo da cachaça de alambique. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

Piazza, A., & Castellucci, F. (2014). Status in organization and management theory. Journal of Management, 40(1), 287-315.

Podolny, J. (1993). A status-based model of market competition. American Journal of Sociology, 52, 370-379.

Powell, K., Takahashi, H., & Roehl, T. (2017). Status and international alliance formation. Multinational Business Review, 25(2), 110-127.

Rocha, E. (2017). Riqueza e status entre mulheres negras no Brasil. Sociedade e Estado, 32(1), 217-244.

Rossoni, L., & Guarido Filho, E. (2015). O que faz um nome? Status, conselho de administração e características organizacionais como antecedentes da reputação corporativa. Revista de Administração, 50(3), 292-309.

Sá-Silva, J., Almeida, C., & Guindani, J. (2009). Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, 1(1), 1-15.

Salata, A. (2016). Uma nova abordagem empírica para a hierarquia de status no brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 31(92), 1-21.

Santos, F. (2005, Junho, 6). Cachaça terá selo de certificação federal. Recuperado em 13 junho, 2020, de https://sisindi.indi.mg.gov.br/sistema_integrado/cake_1.1.15.5144/index.php/pqi/pqi_noticias/view_externa/3233

Saxton, M., & Saxton, T. (2011). Venture launch and growth as a status-building process. In J. Pearce (Ed.). Status in management and organizations (pp. 191-212). Cambridge, UK: Cambridge University Press.

Sasaki, I., Ravasi, D., & Micellota, E. (2019). Family firms as institutions: cultural reproduction and status maintenance among multi-centenary chinese in Kyoto. Organization Studies, 40(6), 793-831.

Schatzki, T. R., Cetina, K., & Savigny, E. (2001). The practice turn in contemporary theory. London: Routledge.

Scott, W. (2008). Institutions and organizations: ideas, interests and identities. Sage Publications: Stanford University.

Secretaria de Agricultura de Minas Gerais. (2009, julho, 16). Cresce número de cachaças artesanais em MG. Recuperado em 22 junho, 2020, de http://www.agricultura.mg.gov.br/index.php/ajuda/story/897-cresce-numero-de-cachacas-artesanais-certificadas-em-minas-gerais

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. (2019). A cachaça de Alambique: um estudo sobre hábitos de consumo em Goiânia. SEBRAE/GOIÁS.

Silva, R. (2009). Na embriaguez da cachaça: produção, imaginário e marketing. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil.

Skvoretz, J., & Fararo, T. (2016). Status and interaction: a stochastic model for the measurement of macro-status value and the determination of micro-status ranking in task group interaction. Socius: Sociological Research for a Dynamic World, 2, 1-16.

Souza, B. (2018). Padronização e certificação da cachaça de alambique mineira: um estudo sob a perspectiva da análise de discurso crítica. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

Stake, R. (2008). Qualitative Case studies. In K. Denzin & Y. S. Lincoln. Strategies of Qualitative Inquiry (pp. 119-150). California, CA: Sage Publications.

Sundermann, J. (2018). Estratégia como prática, lógicas institucionais e discurso: um estudo em organizações produtoras de cachaça artesanal de Minas Gerais. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil.

Vilela, E. (2011). Sírios e libaneses: redes sociais, coesão e posição de status. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 26(76), 157-176.

Wang, P., & Jensen, M. (2018). A Bridge Too Far: Divestiture as a Strategic Reaction to Status Inconsistency. Management Science, 65(2), 859-878.

Weber, M. (1978). Economy and society: an outline of interpretive sociology. Berkeley: University of California Press.

Wouter C., Kristy., S., & Koen F. (2019) Collective institutional work: the case of Airbnb in Amsterdam, London and New York. Industry and Innovation, 26(8), 898-919.

Zara, A., & Delacour, H. (2020, September). On the fluidity of institutional change: complex

interrelations between multiple types of institutional work during the

Serbian Transition. Journal of Management Inquiry (Pre-print).

Zarpelon, F., Bittencourt, A., Faccin, K., & Balestrin, A. (2019). Uma década de trabalho institucional: contexto e oportunidades de pesquisa. Organizações & Sociedade, 26 (91), 750-775.

Zietsma, C., & Lawrence, T. B. (2010). Institutional work in the transformation of an organizational field: the interplay of boundary work and practice work. Administrative Science Quarterly, 55(2), 189-221.

Zvolska, L., Palgan, Y., & Mont, O. (2019). How do sharing organisations create and disrupt institutions? Towards a framework for institutional work in the sharing economy. Journal of Cleaner Production, 219, 667-676.




Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.