Empreendedorismo feminino no artesanato: uma análise crítica do caso das rendeiras dos morros da Mariana

Marina Dantas de Figueiredo, Auristela do Nascimento Melo, Fátima Regina Ney Matos, Diego de Queiroz Machado
DOI: https://doi.org/10.21529/RECADM.2015010

Texto completo:

Artigo

Resumo

O artigo busca problematizar o empreendedorismo feminino a partir de uma perspectiva crítica, subsidiada por teorias feministas baseadas na relação entre trabalho e práticas sociais. O objetivo é compreender como a ação empreendedora pode contribuir para a emancipação feminina. A complexidade do estudo reside no objeto de pesquisa escolhido, qual seja as iniciativas empreendedoras de mulheres dedicadas a atividades artesanais. Por meio de um estudo de caso, exploram-se as causas e consequências da ação das empreendedoras reunidas na Associação de Rendeiras dos Morros da Mariana, com sua produção de rendas de bilro no município de Ilha Grande, Piauí, a partir do viés das relações de poder de gênero. Os achados do estudo apontam para a vinculação entre o desempenho da atividade artesanal das rendeiras e o reforço dos papeis de gênero tradicionais. Como conclusão, tem-se que mesmo que a produção e comercialização da renda sejam fontes geradoras de recursos para as mulheres da Associação, a atividade empreendedora baseada no artesanato não é uma ação emancipatória, capaz de subverter a desigual distribuição de poder de gênero na sociedade em questão. Recomenda-se, a partir dessa conclusão, a realização de outros estudos que tomem como objeto a atividade empreendedora feminina baseada em atividades artesanais tradicionais.


Palavras-chave

Empreendedorismo feminino; Gênero; Artesanato; Perspectiva crítica; Associação de Rendeiras dos Morros da Mariana.


Compartilhe


Referências


Anna, A., Chandler, G., Jansen, E., & Mero, N. (2000). Woman business owners in traditional and non-traditional industries. Journal of Business Venturing, 15(3), 279-303.

Adamson, G. (2008). Thinking through craft. Oxford: Berg.

Arendt, H. (2009). A condição humana (10 Ed.) Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

Barbosa, L. (2012). Os donos e as donas da cozinha. In M. E. Freitas, & M. Dantas (Orgs). Diversidade sexual e trabalho (pp. 171-201). São Paulo: Cenage Learning.

Bardin, L. (2012). Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70.

Bird, B., & Brush, C. (2002). A gendered perspective on organizational creation. Entrepreneurship Theory and Practice, 26(3), 41-65.

Blake, M. K., & Hanson, S. (2005). Rethinking innovation: Context and gender. Environment and Planning A, 37(4), 681-701.

Brush, C. G. (1992). Research on women business owners: Past trends, a new perspective and future directions. Entrepreneurship Theory and Practice, 16(4), 5-31.

Busenitz, L. W., West, G. P., Shepherd, D., Nelson, T., Chandler, G. N., & Zacharakis, A. (2003). Entrepreneurship research in emergence: Past trends and future directions. Journal of Management, 29(3), 285-308.

Calás, M. B., & Smircich, L. (2006). Do ponto de vista da mulher: abordagens feministas em estudos organizacionais. In S. R. Clegg, C. Hardy, & W. R. Nord (Orgs.). Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais (pp. 273-327). São Paulo: Atlas.

Calás, M. B., Smircich, L., & Bourne, K. A. (2007). Knowing Lisa? Feminist analyses of gender and entrepreneurship. In D. Bilimoria & S. K. Piderit (Orgs.). Handbook on women in business and management (pp. 78-105). Cheltenham: Edward Elgar.

Calás, M. B., Smircich, L., & Bourne, K. (2009). Extending the boundaries: Reframing “entrepreneurship as social change” through feminist perspectives. Academy of Management Review, 34(3), 552-569.

Cassol, N., Silveira, A., & Hoeltgebaum, M. (2007). Empreendedorismo feminino: análise da produção científica da base de dados do Institute for scientific information (ISI), 1997-2006. Anais do Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 31.

Chadwick, W. (1991). Woman, art, and society. London: Thames and Hudson.

Colling, A. (2004). A construção histórica do feminino e do masculino. In M N. Strey, S. Cabeda, & D. Prehn (Orgs). Gênero e cultura: questões contemporâneas (pp. 13-38). Porto Alegre: EDIPUC.

Donzelot, J. (1986). Polícia das famílias. Rio de Janeiro: Graal.

Ferreira, T., & Lima, R. (2011). Morros da Mariana: um espaço rendado. Rio de Janeiro: IPHAN, CNFCP.

Fine, B. (1992). Women´s employment and the capitalist family. London: Routledge.

Fischer, T., & Soares, R. M. (2012). Maestria em artes e ofícios populares: uma questão de gênero. In M. E. Freitas & M. Dantas (Orgs). Diversidade sexual e trabalho (pp. 312-335). São Paulo: Cenage Learning.

Freitas, M. E. (2012). O sexo do trabalho intelectual. In M. E. Freitas & M. Dantas (Orgs). Diversidade sexual e trabalho (pp. 203-235). São Paulo: Cenage Learning.

Godoy, A. (1995). Pesquisa qualitativa: Tipos Fundamentais. Revista de Administração de Empresas, 35(3), 20-29.

Godwin, L. N., Stevens, C. E., & Brenner, N. L. (2006). Forced to play by the rules? Theorizing how mixed-sex founding teams benefit women entrepreneurs in male-dominated contexts. Entrepreneurship Theory and Practice, 30(5), 623–642.

Goss, D., Jones, R., Betta, M., & Latham, J. (2011). Power as practice: A micro-sociological analysis of the dynamics of emancipatory entrepreneurship. Organization Studies, 32(2), 211-229.

Hisrich, R., & Peters, M. Empreendedorismo (5 ed). São Paulo: Artmed, 2005.

Holmstrom, N. (Ed.). (2002). The socialist feminist project: A contemporary reader in theory and politics. New York: Monthly Review Press.

Hurley, A. E. (1999) Incorporating feminist theories into sociological theories of entrepreneurship. Women in Management Review, 14(2), 54-62.

Jonathan, E. (2003). Empreendedorismo feminino no setor tecnológico brasileiro: dificuldades e tendências. Anais do Encontro de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, Brasília, DF, Brasil, 3.

Kon, A. (2006). Segmentação e informalidade do trabalho nas empresas, uma perspectiva de gênero. Mulher e Trabalho, 6, 41-57.

Lamas, B. (2007). As artistas: recortes do feminino no mundo das artes. Porto Alegre: Artes e Ofícios.

Lewis, P. (2006). The quest for invisibility: Female entrepreneurship and the masculine norm of entrepreneurship. Gender, Work and Organization, 13(5), 453-468.

Macedo, K. B., Caixeta, C., Guimarães, D. C., Macedo, G., & Hernandez, J. (2004). O processo sucessório em organizações familiares e a exclusão da mulher. Psicologia & Sociedade, 16(3), 69-81.

Machado, H. (2009). Identidade de mulheres empreendedoras. Maringá: Eduem.

Marquesan, F., & Figueiredo, M. (2014). De artesão a empreendedor: a ressignificação do trabalho artesanal como estratégia para a reprodução de relações desiguais de poder. Revista de Administração Mackenzie, 15(6), 76-97.

Menezes, R., & Bertucci, J. O. (2009). Mulher de negócios: uma análise da representação social com base no discurso de Empresárias associadas à Business Professional Women. Anais do Encontro da AnPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 33.

Millet, K. (2000). Sexual politics (5 ed). New York: Doubleday & Co.

Mirchandani, K. (1999). Feminist insight on gendered work: New directions in research on women and entrepreneurship. Gender, Work and Organization, 6(4), 224-235.

Moore, D., & Buttner, E. (1997). Women Entrepreneurs. London: Sage Publications.

Morrison, A., White, R., & Van Velsor, E. (1987). Breaking the glass ceiling: Can women reach the top of America’s largest corporations? Reading: Addison-Wesley.

Moura, S. M., & Araujo, M. F. (2005). A maternidade na história e a história dos cuidados maternos. Psicologia, Ciência e Profissão, 24(1), 44-55.

Munhoz, G. (2000). Quais as contribuições que o estilo feminino de liderança traz para as organizações empreendedoras? Anais do Encontro Nacional de Empreendedorismo, Maringá, PR, Brasil, 1, 164-176.

Nunes, J. (2006). O empreendedorismo feminino e o estilo de liderança no Conselho da Mulher empreendedora da associação comercial de Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Estudos Administrativos, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Organização Internacional do Trabalho. (2013). Panorama Geral do Trabalho Doméstico, no Brasil e no mundo. Relatório da OIT.

Programa do Artesanato Brasileiro. (2010). Glossário do Programa Do Artesanato Brasileiro – Base Conceitual. Brasília: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Melo, H. P. de. (2005). Gênero e pobreza no Brasil: relatório nal do Projeto Governabilidad Democratica de Gênero en America Latina y el Caribe. Brasília: Cepal, SPM.

Rago, M. (2006). Trabalho feminino e sexualidade. In M. Del Priore (Org.). História das mulheres no Brasil (8 ed.) (pp. 578-605). São Paulo: Contexto.

Rees, T. (1992). Woman and the labor market. London: Routledge.

Rindova, V., Barry, D., & Ketchen Jr., D. (2009). Introduction to special topic forum: entrepreneuring as emancipation. Academy of Management Review, 34(3), 477-491.

Schumpeter, J. (1983). Teoria do desenvolvimento econômico. São Paulo: Abril Cultural.

Saffioti, H. (1976). Trabalho feminino e capitalismo. Perspectivas, 1, 119-163.

Saffioti, H. (1982). O trabalho da mulher no Brasil. Perspectivas, 5, 115-135.

Saffioti, H. (1985). Força de trabalho feminina no Brasil: no interior das cifras. Perspectivas, 8, 95-141.

Sennett, R. (2008). O artífice. São Paulo: Record.

Simião, S. D. (2013). As coisas fora do lugar. Gênero e o potencial de programas de geração de emprego e renda. Recuperado em 29 maio, 2013, de http://www.redemulher.org.br/generoweb/daniel.htm.

Shane, S. (2003). General Theory of Entrepreneurship: the individual-opportunity nexus. Northampton: Edward Elgar.

Soihet, R. (2006). Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In M. Del Priore (Org.). História das mulheres no Brasil (8 ed.) (pp. 362-399). São Paulo: Contexto.

Yin, R. (2005). Estudo de caso: planejamento e métodos (3 Ed.). Porto Alegre: Bookman.




Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.